3% — Vale a pena assistir a nossa série brasileira na Netflix?

Wilhiam Pereira
3 min readAug 16, 2020

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Bom, se você nem sabia da existência dessa série, volte três casas, respira um pouco e vem ler esse texto…

Reprodução Netflix

Sim, eu não escrevi errado, a série se chama 3% (por cento), e é completamente brasileira, estrelada por autores daqui (um time foda), criada, ambientada e gravada em solo brasileiro, foi desenvolvida por Pedro Aguilera, e a obra contava apenas com um episódio piloto no YouTube, lançado em em 2009. Hoje, é a série de língua não inglesa mais assistida nos EUA, conta com 50% de sua audiência vinda de fora, e acaba de estrear a sua quarta e última temporada.

A série é uma distopia futurística, onde apenas 3% da população que sobrou no Brasil possui acesso a direitos básicos (que são entendidos como privilégios), enquanto 97% vive as margens da sociedade.

A história inicialmente se divide em dois ambientes, o Mar Alto, que é uma ilha onde esses 3% moram e residem com todas as tranquilidades que a vida pode oferecer, e o continente, que é de fato o que sobrou de algumas cidades.

Toda a trama se cria em cima de um grande processo seletivo que da a oportunidade de alguns jovens terem acesso ao Mar Alto, e mudarem sua vida.

Funciona basicamente assim, todo jovem que vive no continente, ao completar 20 anos, tem uma única chance de ir pro processo, onde apenas 3% serão selecionados, ele é composto de muitas etapas que desafiam e colocam em cheque valores sociais e morais, ou seja, a cada 10 participantes, 7 automaticamente já estão fora.

Toda a filosofia desse processo é arquitetada sobre um conceito falido de meritocracia, onde quem não passar simplesmente não foi merecedor, isso faz principalmente com que ninguém questione o sistema injusto que condiciona a sociedade a ser assim.

E aí você pode pensar “ah, mas ok, é só isso…?” rs, não mesmo!

Além do processo em sí (que é o foco da 1ª temporada) ser algo completamente instigante, a história conta como se formou essa sociedade privilegiada, como eles mantém o poder e não medem esforços pra sustentar a ideia da meritocracia.

Sim, existe uma oposição que se constrói contra tudo isso (team causa ;), cenas de muita resistência e claro, várias referências “verde e amarelo”.

Uma dessas referências é o carnaval, que pra mim segue sendo uma das melhores cenas. (Você pode conferir esse trechinho aqui, e já se apaixonar).

Bom, eu poderia ficar horas escrevendo, mas com certeza eu iria querer contar spoilers sobre quem morre, se apaixona, etc, etc…

Mas a lição que fica é a de que a gente se acostuma com produções de fora o tempo todo, a ver apenas o outro sendo representado, e nem sabemos qual a sensação de ver algo tão potente falando sobre nossa realidade, sobre a gente mesmo.

Eu me arrisco dizer que mais do que uma série, 3% é uma experiência, experiência essa que todo brasileiro deveria passar.

Deixo um recado do tio Ezequiel pra vocês:

“Você é o criador do seu próprio mérito.”

Será?

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Written by Wilhiam Pereira

Escrita, porquês, críticas, design e antirracismo. Um blog sobre sociedade, pessoas, problemas e soluções.

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